Incêndios devastaram quase metade do Cerrado desde 1985

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Incêndios devastaram quase metade do Cerrado desde 1985

Em números absolutos, área do bioma atingida pelo fogo de 1985 a 2023 foi maior do que a da Amazônia, o que também ocorre proporcionalmente.

No Dia Nacional do Cerrado celebrado ontem (11/9) o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) divulgou dados do MapBiomas sobre o estrago provocado pelo fogo no bioma entre 1985 e 2023. Nesses 38 anos, 88,5 milhões de hectares foram queimados no Cerrado, informam O Globo, CNN e R7. A área queimada corresponde a 44,1% do bioma e equivale a pouco mais de duas vezes o território do Paraguai ou quase toda a Região Sudeste.

A área queimada no Cerrado foi maior do que na Amazônia, que perdeu 82,6 milhões de hectares para o fogo nesse período. Proporcionalmente o estrago também foi maior no Cerrado, já que a área queimada no bioma amazônico entre 1985 e 2023 corresponde a quase 20% de seu território total.

E setembro está sendo marcado pelo avanço dos incêndios no bioma, destaca o Um só planeta. Desde o dia 7, o Cerrado se tornou o bioma com mais registros diários de focos de incêndio no Brasil. Conforme os dados do INPE, em quatro dias – até 3ª feira (10/9) – foram identificados 5.642 pontos de calor no território coberto pelo Cerrado. No mesmo período, a Amazônia registrou 5.109 focos, seguida pela Mata Atlântica, com 814, Pantanal, com 392, e a Caatinga, com 197, detalha o Metrópoles.

Além do fogo, o Cerrado sofreu muito – e continua sofrendo – com o desmatamento. No período de tempo avaliado pelo MapBiomas foram desmatados 38 milhões de hectares, área equivalente ao estado de Goiás. Isso representa uma redução de 27% na vegetação original do bioma. Dos 10 municípios brasileiros com maior desmate em 2023, oito estão no Cerrado.

Quase metade da área do Cerrado foi alterada por atividades humanas. São 26 milhões de hectares ocupados pela agricultura, sendo 75% destinados ao cultivo de soja. O bioma responde por quase metade da área cultivada com o grão no Brasil, totalizando 19 milhões de hectares.

A metade do Cerrado que ainda permanece em pé corresponde a 101 milhões de hectares. Representa 8% de toda a vegetação nativa do Brasil e garante o posto do Cerrado como a savana mais biodiversa do mundo. “O Cerrado se destaca por ser a savana mais quente e chuvosa do mundo. Nenhuma outra savana do mundo tem temperaturas tão amenas no inverno e tanta água caindo no solo com a chegada da estação chuvosa”, explicou Reuber Albuquerque Brandão no Correio Braziliense.

Mas as ameaças continuam. Desse remanescente, 48% estão nos estados da região conhecida como MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que viu sua atividade agrícola aumentar 24 vezes desde 1985. A região também concentra 41% do desmatamento registrado no bioma nos últimos 39 anos.

“Estamos falando da savana mais biodiversa do planeta e da caixa d’água do país e é onde nascem as bacias hidrográficas Amazônica, São Francisco, Araguaia/Tocantins, Parnaíba, Paraná e Paraguai. No entanto, o ano de 2024 escancarou o resultado histórico de ataques e negligência que os Povos do Cerrado enfrentam cotidianamente ao serem impactados pelas queimadas criminosas, pelo desmatamento, pela seca e pelos conflitos por terra. Ainda ausente dos grandes debates nacionais e internacionais sobre meio ambiente e recursos públicos, o Cerrado, além de ser uma Terra-Território com poucas áreas protegidas por leis de conservação, é onde o agronegócio atua com pouca regulação”, reforça Ludmila Pereira, da Articulação Agro é Fogo.

Em tempo 1: Os ministros das Relações Exteriores e da Agricultura, Mauro Vieira e Carlos Fávaro, enviram carta à União Europeia apelando pela não implementação da lei que proíbe a importação de produtos originários pelos países do bloco de commodities produzidas em áreas desmatadas legalmente ou não a partir de 2020. Segundo os ministros, a lei é um instrumento “unilateral e punitivo” que ignora a legislação brasileira sobre desmatamento (esta mesma que está permitindo a destruição do Cerrado).

Em tempo 2: O Instituto Cerrados (IC), em parceria com o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), o WWF-Brasil e o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) lançaram a campanha “Cerrado, Coração das Águas”. O objetivo é fazer com que os brasileiros tenham a real dimensão do bioma Cerrado em sua vida. “A manutenção do Cerrado vivo interessa a todos, mas poucos já entenderam isso”, destacam Yuri Salmona, do IC, Isabel Figueiredo, do ISPN, Ane Alencar, do IPAM, e Bianca Nakamato, do WWF-Brasil, em artigo no Estadão.

Em tempo 3: Clima nas eleições: com mais de 10 mil hectares queimados no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, no Cerrado de Goiás, candidatos em duas cidades da região, a candidata a prefeita de Alto Paraíso, Professora Nislene (PSB) e o candidato à reeleição de Cavalcante, Vilmar Kalunga (PSB), lançaram juntos propostas de ações integradas para preservação e desenvolvimento sustentável. A principal delas é a criação de um consórcio intermunicipal para atuar em prol do Cerrado e da Chapada dos Veadeiros, com o objetivo de construir uma rede de apoio e defesa do bioma integrada e articulada entre governos e sociedade civil, sendo convocadas candidaturas de toda a região a assumir compromissos, caso sejam eleitos, detalha o Correio Braziliense. Outro destaque é a elaboração de um plano de ação climática pautado no Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima, para identificar e estabelecer medidas concretas de redução de emissões de gases de efeito estufa, de mitigação e de adaptação social, econômica, ambiental e territorial.

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