Dependente de gás fóssil para a eletricidade, a União Europeia busca viabilizar fornecedores alternativos à Rússia, alvo de sanções por causa da guerra na Ucrânia.
A guerra entre Rússia e Ucrânia segue causando dores de cabeça para a União Europeia. Noves fora as tensões geopolíticas e militares, o conflito colocou a economia europeia em um dilema energético: como superar a dependência de combustíveis fósseis, especialmente gás fóssil, exportados pela Rússia a preços camaradas por décadas a fio?
Por um lado, o fechamento dos gasodutos com a Rússia permitiu que os europeus intensificassem seus esforços para acelerar a adoção de fontes renováveis de energia. Mas esse esforço nem fez sombra à principal “solução” buscada pelos governos da Europa para resolver a crise: encontrar outros fornecedores fósseis.
Quis o destino que um desses fornecedores alternativos virasse anfitrião da Conferência da ONU sobre o Clima deste ano, a COP29 – o Azerbaijão. Uma das propostas em discussão, de acordo com a Bloomberg, é a construção de um novo gasoduto para transportar o gás fóssil dos campos azeris, atravessando a Ucrânia. Isso permitiria que o combustível chegasse aos consumidores europeus a um custo mais baixo.
Desde 2022, Azerbaijão e UE discutem maneiras para ampliar o fornecimento de gás fóssil. Naquele ano, logo após a invasão russa da Ucrânia, os azeris se comprometeram a dobrar suas exportações de gás para a Europa, com o objetivo de chegar a 20 bilhões de metros cúbicos até 2027. De acordo com o governo de Baku, as vendas para o mercado europeu neste ano devem chegar a 13 bilhões de metros cúbicos.
A construção do gasoduto é polêmica, não apenas pela questão mais imediata – a guerra que ainda castiga a Ucrânia – mas também por considerações econômicas e ambientais. O governo azeri entende que pode ampliar o fornecimento de gás à Europa, mas exige investimentos de longo prazo. Os europeus, por sua vez, ainda estão reticentes a gastar muito dinheiro em uma infraestrutura que pode ficar “inútil” no contexto da transição energética. O Financial Times destacou a frustração de Baku com esse impasse.
A ironia não escapou à atenção da Bloomberg. A União Europeia costuma se colocar como um dos principais champions da ação climática global e deve se posicionar da mesma forma na COP29 de Baku. Ao mesmo tempo, no entanto, os governos europeus seguem sedentos pelos combustíveis fósseis vendidos pelo mesmo Azerbaijão que sediará a conferência climática em novembro.
É aquele velho ditado cínico: “faça o que eu digo, não o que eu faço”.
Em tempo: O NY Times visitou o Azerbaijão para mostrar como o país está se preparando para receber a COP29. Há um quê de “novidade” em toda essa preparação e até mesmo o governo azeri reconhece que a agenda climática é uma novidade para o debate político local. “Não somos famosos como desenvolvedores de ideias de transição verde. Então, sim, para nós é algo novo”, afirmou o ministro Mukhtar Babayev, futuro presidente da COP29.
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ClimaInfo, 6 de agosto de 2024.
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