Lobby petrolífero enfraquece esboço de tratado global contra poluição por plásticos

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Lobby petrolífero enfraquece esboço de tratado global contra poluição por plásticos

A presença em peso de lobistas do petróleo dificultou a definição de um tratado com regras globais e metas para redução do consumo de plástico.

Ativistas, negociadores e analistas saíram frustrados de Ottawa, no Canadá, depois da mais recente rodada de negociação da ONU em torno de um tratado internacional contra a poluição por plásticos, finalizada na última 2ª feira (29/4). Sem uma sinalização clara sobre como será o futuro acordo, os países adiaram definições importantes para a próxima – e última, pelo calendário oficial – sessão de negociação, que acontecerá em Busan, na Coreia do Sul, em novembro.
Em grande parte, a indefinição em torno do tratado contra a poluição por plásticos é resultado da pressão política e econômica da indústria do petróleo, que participou em peso da última rodada de negociação. Como destacou o Observatório do Clima, um levantamento do Centro de Direito Ambiental Internacional (CIEL) mostrou que 196 lobistas se inscreveram para participar dessa sessão, número 37% superior ao observado na rodada anterior (143), em Nairóbi (Quênia), em novembro passado.

A presença maciça do lobby petrolífero emperrou as conversas em Ottawa. Um exemplo disso é o veto de EUA e Reino Unido a uma proposta apresentada por Peru e Ruanda, apoiada por um grupo diverso de 29 nações desenvolvidas e em desenvolvimento, que definia uma abordagem de restrição da produção de plástico, com uma meta global de redução de 40% até 2040 em relação a 2005.

“Em Ottawa, vimos muitos países afirmarem, com razão, que é importante que o tratado abordasse a produção de polímeros plásticos primários. Mas quando chegou a hora de se  ir além das declarações vazias, vimos os mesmos países desenvolvidos abandonarem todas as pretensões”, afirmou David Azoulay, diretor de saúde ambiental do CIEL, citado pelo Guardian.

A questão da produção de plástico também causou cisões dentro da chamada “Coalizão de Alta Ambição”, um grupo de países teoricamente a favor de um acordo mais abrangente contra a poluição por plásticos. Integrantes do grupo, como o Canadá, votaram para que o programa de negociação intersessional para os próximos meses não abordasse esse ponto, o que diminui a possibilidade do acordo fechar metas específicas para restringir a produção plástica.

“É preocupante que os interesses da indústria petroquímica e das grandes petrolíferas sejam colocados à frente dos interesses das pessoas e do planeta”, lamentou Sarah King, do Greenpeace Canadá, à Bloomberg. “É nisso que vamos trabalhar até lá, para garantir que isso não aconteça [em Busan]”. 

A sociedade civil organizada também criticou os resultados das conversas diplomáticas em Ottawa. “Os países fizeram progressos importantes, mas as grandes decisões ainda permanecem [pendentes]: será que vamos conseguir um tratado forte com regras globais comuns que a maior parte do mundo está pedindo ou vamos acabar com um acordo voluntário diluído liderado pelos valores do menor denominador comum?”, questionou Eirik Lindebjerg, líder global de plásticos do WWF Internacional.

“Os governos estão ouvindo mais atentamente os lobistas do setor petroquímico do que os cientistas da saúde. Qualquer criança pode ver que não podemos resolver a crise do plástico a menos que paremos de fabricar tanto plástico”, argumentou Graham Forbes, do Greenpeace Internacional. “Se os países, particularmente a chamada ‘Coalizão da Alta Ambição’, não agirem entre agora e [na próxima rodada] em Busan, o tratado que provavelmente obterão é aquele que poderia ter sido escrito pela ExxonMobil e seus aliados”.

Os resultados finais das negociações em Ottawa tiveram grande repercussão na imprensa, com destaques em AFP, Associated Press, Financial Times, Reuters e Valor, entre outros.

ClimaInfo, 2 de maio de 2024.

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