Valter Correia da Silva, que encabeça a organização da COP30 pelo governo federal, reforçou a promessa de Lula de realizar o evento na capital paraense.
A COP30 acontecerá em Belém e não dividirá o evento com outras cidades brasileiras. Essa é a posição do secretário extraordinário do governo federal para a organização da conferência, Valter Correia da Silva. Responsável pela parte logística da COP, o secretário reconheceu que os desafios de Belém são grandes, mas sinalizou que a capital do Pará estará preparada para a ocasião.
“Desde que o presidente [Lula] anunciou que seria em Belém, nunca se pensou em outra possibilidade. Dividir, vai dividir problemas, mais custos. Só dá dor de cabeça”, afirmou o secretário ao Estadão. “A COP foi pensada desde o começo na Amazônia. O simbolismo daquele local é grande. Sair de lá e fazer outra parte no Rio [de Janeiro] ou em São Paulo seria maluquice”.
Um dos principais gargalos de Belém para a realização da COP30 é a rede hoteleira, com capacidade baixa para comportar a quantidade de pessoas que o evento deve trazer ao Brasil. Em particular, a falta de leitos de luxo preocupa, já que pode dificultar a vinda de chefes de estado e de governo durante o segmento de alto nível da COP.
Além de parcerias para reformar hotéis e adaptar instalações existentes para receber os participantes, os governos paraense e federal também contam com a possibilidade de navios de cruzeiro atracarem no porto da cidade. Mesmo com essas medidas, ainda persistem dúvidas sobre a capacidade de Belém em receber a COP, ao menos na dimensão que o evento adquiriu nos últimos anos.
“Tem uma orientação da ONU que é para se voltar para os números anteriores [à COP28, realizada nos Emirados Árabes no ano passado], porque Dubai, realmente, foi um pouco fora da curva. Foram mais de 100 mil pessoas que ficaram transitando”, disse Silva. “Há uma orientação da gente tentar reduzir o número de credenciados”.
Além da rede hoteleira, as autoridades também esperam que as chamadas “hospedagens alternativas” absorvam parte da demanda dos participantes da COP. O Globo destacou um exemplo dessas hospedagens, os domos de caroço de açaí. Projetada por uma startup, essa estrutura é feita de madeira de jatobá, com cobertura térmica, 65% de material reciclado e parte do revestimento interno de caroço de açaí.
Segundo os responsáveis pelo projeto, cada domo tem seis metros de diâmetro, banheiro interno e pode acomodar até seis pessoas. A estrutura é totalmente desmontável e de 80% a 90% dela pode ser reaproveitada em outras instalações.
Ainda sobre infraestrutura, o Estadão informou que o Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Pará (TCM-PA) decidiu suspender a compra de ônibus elétricos pela Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém. A compra faz parte do projeto de preparação para a COP30 pela prefeitura de Belém. O município pretendia comprar 30 ônibus elétricos pelo valor de R$ 3,6 milhões. Segundo o TCM-PA, as condições de compra poderiam resultar em um gasto superior a R$ 10 milhões, com risco de “uso indevido de recursos públicos”.
Em tempo 1: A infraestrutura logística é apenas um dos desafios da COP30. A agenda política de negociação é outro abacaxi para o governo brasileiro, que quer aproveitar a conferência para impulsionar a ação climática no próximo ciclo de compromissos nacionais sob o Acordo de Paris. O Brasil enxerga espaço para que a COP de Belém também discuta outros dois tópicos importantes para o país (e igualmente desafiadores do ponto de vista das negociações): adaptação a eventos extremos e Justiça Climática. “O Brasil pode trazer outros temas que não estavam planejados para a COP30”, disse Ana Toni, secretária nacional de mudanças climáticas, ao Valor.
Em tempo 2: Enquanto isso, os ruralistas preparam mais um show de horrores no Congresso Nacional. Segundo a Repórter Brasil, o deputado federal Giovani Cherini (PL-RS) está tentando emplacar uma subcomissão na Câmara para desfilar a ignorância do negacionismo climático. O parlamentar também quer participar da COP30 para “desmentir” a crise climática. A proposta conta com apoio da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), contrariando a posição formal da própria bancada sobre o tema.
ClimaInfo, 7 de agosto de 2024.
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