O evento, realizado sempre uma semana antes do carnaval, está marcado para este sábado (3), das 19h às 21h, no Ponto de Cultura TabokaGrande.
O g1 conversou com o mestre Wertemberg Nunes, organizador do evento, que explicou como o ritual é feito, a história e culturas que fazem da queima, um momento especial.
Durante a Queima dos Tambores, os músicos e o público se reúnem em volta do fogo, que é aceso no Turimbó (em tupu-gurani “Turi” que significa fogueira, “curi” é pau-oco e “m’bo” significa furado). O primeiro ato é o momento em que as pessoas fazem o pedido e jogam um cavaco de madeira (pedaço de madeira0 na fogueira, que será acesa em seguida. Se ele queimar, é porque o pedido foi atendido.
“As pessoas pegam um cavaco que entregamos na abertura e atribui a ele algo ruim que querem que queimem e depois pedem para transformar em algo bom. Só acende o fogo depois que todos os presentes que querem fazem o pedido jogam o cavaco. Alguns fazem em silêncio e outros compartilham. Tem gente que já sabe e traz até pedido escrito. Outros que pedem para parentes e vai andando o bonde, vamos contando causos e poesias”, contou.
Mestre Wertemberg durante a queima dos tambores — Foto: Arquivo pessoal/TabokaGrande
Todo o processo tem ligação com o fogo, desde a produção dos instrumentos até a queima dos pedidos. Wertemberg explica que os tambores são feitos com troncos de madeira e que passam por um batismo antes da queima.
“Depois de trabalhado, o tambor vem ao fogo para finalizar e vai para encouramento de pele e pronto vem para a afinação no fogo. Por isso que na queima antes dos tambores tocarem pela primeira vez é feito a consagração no fogo, uma espécie de batismo, e quando um dia ele tiver que ser descartado vai para a fogueira para ser desativado”.
Músicos e público de reúnem na queima dos tambores e fazem pedidos — Foto: Divulgação/TabokaGrande
Assim como os troncos são transformados em tambores, os cavacos de madeiras são transformados em pedidos. A ideia de fazer essa conexão com a produção e o espiritual veio do filho mais velho de Wertemberg.
“Meu filho mais velho fez uma analogia de que o cavaco representasse algo ruim para gente e que ao colocar no Turimbó queimaria e transformaria em algo bom. Esse gesto foi seguido por todos presentes e desde então o Turimbó, que transforma um tronco de madeira em um instrumento e que purifica com o fogo a madeira, passou a ser o que transforma nossos pedidos para o bem”, explicou o mestre.
Apesar de fazer parte do programação que antecede o carnaval em Taquaruçu, a queima não é considerada um evento pré-carvanal. Mas nem por isso deve ser ignorado pelos foliões. Segundo o Wertemberg, a queima é uma ótima oportunidade para fazer bons pedidos antes das festas.
“Pode-se dizer que é uma espécie de abertura. De um momento para limpar-se e se concentrar para o bem e voltar-se para a maravilha de viver e depois para brincar o carnaval com saúde e alegria. Sempre foi uma proposta de oferecer alternativas e reflexão sobre o equilíbrio entre nossas diferentes culturas, entre a cultura humana e a natureza. As pessoas vinham às vezes com o espírito de carnaval e ao chegarem se encantavam”.
Vivências e ancestralidade amazônica
Queima dos Tambores é um rito tradicional que acontece no distrito há mais de 20 anos — Foto: Divulgação
A ideia da Queima dos Tambores nasceu a partir de pesquisas e vivências de Wertemberg sobre a ancestralidade na região amazônica, durante suas viagens pelo Brasil. Foi através desses conhecimentos que surgiu o ritmo capoeboicongo, uma mistura da capoeira, boi econgados.
“Como artista achei que devia deixar cada um [ritmo] ficar no seu lugar e transformar o que nos servia como criativo, para o que se tornou o capoeboicongo. Vem daí a roda, o fogo, os tambores dialogam com todas estas matrizes, o princípio de morte e ressurreição do boi, o cantar e a oração dos congados. O boi vem da influência dos bois de matraca do Maranhão. Tudo se mistura e se transforma, ressignificando, sem ser nenhum deles e ao mesmo tempo quase que uma homenagem por estar intrinsecamente dentro de cada um de nós”, explicou.
O evento é realizado sempre uma semana antes do carnaval, desde 2001, no Distrito de Taquaruçu. Inicialmente era realizado junto com o bloco TabokaGrande, que depois se tornou os Gigantes de Palmas.
Primeira vez que os ‘bonecos gigantes’ saíram pelas ruas de Palmas foi em 2001 — Foto: Divulgação