O resgate dos pacientes da clínica aconteceu durante uma operação da Polícia Civil na tarde desta quarta-feira (7). Ao todo, 70 homens foram encontrados e pelo menos 50 relataram que sofriam maus-tratos e tinham que tomar sedativos.
O advogado Sérgio Bruno, que representa os donos da clínica, informou que vai se posicionar quando tiver acesso integral aos autos da investigação.
Buraco que os pacientes eram obrigados a cavar em caso de desobediências — Foto: Polícia Civil/Divulgação
“Está sendo soterrado agora o buraco da punição. Se eles fizessem algo de errado ou passassem para o familiar o que estava acontecendo, alguma rebeldia aqui dentro, eles iam para aquele buraco e seriam punidos dentro daquele buraco”, contou Roseane Costa Santos.
Roseane é prima de um homem de 33 anos. Ele é de Marianópolis do Tocantins, na região oeste do estado, e estava internado no local há dois meses para tratar dependência química.
Buraco teria sido soterrado após operação da Polícia Civil — Foto: Polícia Civil/Divulgação
A existência do buraco também foi confirmada à produção da TV Anhanguera por um ex-interno do local. Ele pediu para não ser identificado, mas confirmou que havia agressões e contou que eram comuns surtos de pacientes psiquiátricos internados no mesmo local.
“Os pacientes entravam em surto e quando eles não davam o ‘danone’, que é uma mistura de vários tarja preta na água, ou haldol injetável, colocavam os pacientes para lavar roupa, louça ou cavar buraco de fossa […] O buraco era para servir de fossa de lixo e colocava para cavar, mas eu fiquei três meses e fiquei sabendo que quando a pessoa dava muito trabalho eles ameaçavam colocar dentro do buraco”.
Operação da Polícia Civil prende donos de clínica para tratamento de dependentes químicos
A clínica funcionava em uma chácara na zona rural de Palmas. As grades nas janelas e portas, principalmente nos quartos, chamaram a atenção da equipe policial durante a operação.
Os policiais passaram quase 24 horas colhendo depoimentos dos pacientes e mais da metade confirmou as agressões físicas. Segundo os relatos, as visitas de parentes eram acompanhadas por um coordenador e os internos eram orientados do que poderiam ou não falar.
“Se desobedecessem aquele comando eles eram punidos cavando buracos na clínica ou com outros tipos de limpeza. Caso se recusassem a essa punição eles eram medicados e ficavam de um a dois dias sedados”, explicou o delegado Gregory Almeida.
Operação foi realizada nesta quarta-feira (7) na clínica, em Palmas — Foto: Kaliton Mota/TV Anhanguera
Casal preso
O casal responsável pela clínica foi preso preventivamente. Os dois foram levados para as Unidades Penais Masculina e Feminina da capital, onde estão à disposição da Justiça. Os nomes não foram informados pela polícia.
“A lei permite, sim, as internações voluntárias e as involuntárias. No entanto, a lei estabelece requisitos, como o laudo médico, como comunicação ao Ministério Público, que foi o que a gente não observou nessa clínica”.
Conforme o delegado, o casal foi autuado em flagrante pelos crimes de maus-tratos, cárcere privado qualificado e furto de energia elétrica. Também há outro inquérito contra o casal pelo crime de tortura. As investigações continuam.
Um dos quartos da clínica — Foto: Kaliton Mota/TV Anhanguera