Investimentos em renováveis serão feitos inicialmente em projetos existentes ou em andamento, não contribuindo assim com os esforços do país para a estabilização do clima.
Após um ano falando de transição energética, mas pouco [ou nada] fazendo, além de dizer que precisa explorar mais petróleo para financiá-la, o comando da Petrobras dá, enfim, os primeiros passos em direção a fontes renováveis. E como um bebê que está aprendendo a andar, a empresa não vai longe: os anúncios incluem apenas a compra ou investimento em usinas já existentes ou em andamento, sem novos projetos. Isso pode até ajudar a limpar o conjunto de produtos da petroleira, sujo pelos combustíveis fósseis que produz e vende, mas não apoia o país a aumentar a participação das renováveis na matriz elétrica brasileira, nem reduz emissões do setor elétrico.
Em entrevista à Reuters reproduzida por UOL, Terra e Diário do Comércio, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse que a petroleira espera formar inicialmente um portfólio de cerca de 2 GW de ativos de geração eólica e solar em terra no Brasil a partir deste ano. Segundo ele, a estatal fará parcerias com outras empresas em projetos já consolidados e que não enfrentam dúvidas sobre o sucesso do negócio. O que indica que não haverá novidades, mas sim mudança de sócios em projetos já encaminhados.
“Tem muito projeto bom aí de portugueses, espanhóis, franceses e brasileiros, tudo onshore (em terra) e já rodando. Esses 2 gigawatts devem ser de solar e eólica em terra. Este ano vamos mostrar que nossa reta é firme e que estamos olhando para o futuro e sabemos o que queremos, vamos começar a pôr de pé o portfólio de renováveis. Ele vai mostrar que tem qualidade e é consolidado, além de firme. Não é coisa besta, nem pequenininha”, disse o CEO.
Prates voltou a destacar a eólica offshore como a “menina dos olhos” da Petrobras, já que a petroleira estuda uma carteira de projetos que soma 30 GW. O CEO disse que a empresa aguarda com expectativa a aprovação do marco regulatório para o setor no Brasil. Atualmente, o projeto de lei que aguarda apreciação do Senado está cheio de jabutis incluídos na Câmara de Deputados e que beneficiam justamente os combustíveis fósseis, como gás natural e até carvão. “Quando sair (o marco regulatório), vamos reinar praticamente sozinhos nesse mercado. Essa é nossa grande aposta e vamos fazer a diferença.” Esperemos.
Na 2ª feira (22/1), Prates informou que está revitalizando o prédio sede da Petrobras no Rio Grande do Norte (EDIRN) para servir de apoio à diretoria de Transição Energética e Sustentabilidade da empresa e se tornar a sede do polo eólico offshore da estatal, previsto para o final da década, informam InfoMoney e Época Negócios. Mas, como não consegue deixar de pensar em combustíveis fósseis, o executivo disse também que a estrutura será “fundamental no seguimento de prospecção da Margem Equatorial [leia-se ‘Foz do Amazonas e outras bacias da região’]”. Esperemos que não.
Os planos de transição energética envolvem também combustíveis renováveis. Numa frente, a companhia quer criar grupos de trabalho com o setor sucroalcooleiro do Nordeste para desenvolver novos projetos no segmento, relatam UOL e Brasil 247. Na outra, planeja ampliar a produção de diesel fóssil coprocessado com óleos vegetais – o chamado “diesel R”. Para isso, Prates Prates voltou a defender a inclusão do produto no mandato de biocombustíveis, complementando o mandato já existente para o biodiesel.
ClimaInfo, 24 de janeiro de 2024.
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