O próximo passo foi a preparação para a sonhada formatura. Organizados em fila em uma sala de aula da escola, a equipe de cerimonial vestiu cada um deles com a beca de formatura. De acordo com o secretário municipal de educação da cidade, André Goveia, o uso do traje tradicional foi um dos pedidos dos próprios anciãos.
Durante a preparação, o g1 conversou com um dos professores dos alunos. Lenivaldo Xerente estava orgulho. Cinco dos formando são da mesma aldeia que ele e isso fez o momento ser mais importante ainda.
Professor Lenivaldo Xerente estava emocionado com a formatura dos alunos — Foto: Djavan Barbosa/Jornal do Tocantins
“Foi muito importante porque nunca tinha tido a oportunidade de trabalhar com os mais velhos em sala de aula. Na nossa cultura eles que são professores para nós, porque eles são as bibliotecas que sabem a história da nossa cultura. Aprendi com eles muitas coisas”, disse, explicando que dava aulas de letras e cânticos.
A professora Jacira Xerente também trabalhou com os anciãos ministrando aulas de letramento. Ela contou que um dos benefícios para os idosos é que eles ficaram menos isolados nesse período e interagiram com muitas pessoas.
“Eles começaram a desenvolver melhor, não ficar só dentro de casa. Pelo menos a gente tirou eles dentro de casa. A gente leva eles de uma aldeia para outra para conhecer para eles interagirem com outros anciãos, falar de tempos que era diferente, que hoje mudou muito. Eles têm muita saudade daquele tempo, além da gente dar aula”, contou sobre o dia a dia com os alunos idosos.
Alunos mostram placa da turma — Foto: Djavan Barbosa/Jornal do Tocantins
Quebra de protocolos
Mas a formatura não teve só elementos tradicionais. Uma pequena ‘quebra de protocolo’ retirou a mesa com as autoridades e professores do centro e colocou os próprios alunos no centro da colação de grau.
Além disso, indígenas e brancos puderam entender os ritos, já que tudo foi traduzido do português para o akwê Xerente. Cânticos característicos dos povos tradicionais também fizeram parte da colação.
A coordenadora da UMA, Neila Barbosa Osório, que teve nome escolhido para a primeira turma de indígenas idosos formandos no Brasil, falou que além de passar o conhecimento das aldeias, eles tinham o interesse em receber a outorga das mãos de pessoas que são da área acadêmica.
Momento do discurso dos anciãos Augusto Xerente e Kasumrã Xerente na língua akwê — Foto: Djavan Barbosa/Jornal do Tocantins
“Eles falaram nós queremos uma beca. Eles querem a prática com a ciência, eles querem mostrar à comunidade que eles também podem ter um título acadêmico. Eles querem o canudo, eles querem o diploma, eles não querem nada que eles já tenham, eles querem mais. Querem realmente o conhecimento da academia”, explicou, afirmando que os preparativos passaram pelo crivo da comunidade.
Trocas e homenagens
Um momento da formatura foi dedicado aos agradecimentos dos anciãos Augusto Xerente e Kasumrã Xerente, que se expressaram na língua akwê em discurso sobre as experiências vividas nos últimos meses com a turma.
Outro momento emocionante que marcou a colação foi a homenagem aos alunos que morreram antes de concluir o curso. “Vocês foram os seres humanos mais íntegros e honesto que um dia conhecemos”, disse trecho da homenagem feita pela UMA.
Parentes dos colegas da turma que faleceram receberam homenagens — Foto: Patricia Lauris/g1 Tocantins
Depois de tantas adaptações para que o momento marcasse de forma positiva a conquista do indígenas idosos, uma detalhe foi feito exatamente como as formaturas tradicionais: os novos educadores políticos sociais do envelhecimento humano jogaram ‘chapéu’ da beca para cima, sinalizando o fim da cerimônia e o começo de um nova experiência de vida.
Indígenas idosos são a primeira turma formada no país