As petroleiras querem nos convencer que o mundo não precisa reduzir o consumo de combustíveis fósseis, basta capturar e armazenar o carbono da atmosfera. Será?
A Conferência do Clima de Dubai (COP28) trouxe à tona a necessidade da economia global se livrar o quanto antes da dependência dos combustíveis fósseis como caminho para evitar mudanças climáticas ainda mais catastróficas. Não à toa, ao mesmo tempo em que se discute a eliminação progressiva dessa energia suja, a indústria petroleira tenta convencer o mundo que isso é desnecessário.
O argumento é tão simples que parece um passe de mágica: vamos sugar o carbono da atmosfera e armazená-lo em algum lugar. Pronto! Aí podemos seguir queimando combustíveis fósseis sem nos preocuparmos com o aquecimento global. A mágica tem até uma sigla: CCS, carbon capture and storage, ou captura e armazenamento de carbono em Português.
O efeito mágico da CCS começa a se enfraquecer quando olhamos com detalhe a proposta. Fora alguns projetos-piloto em escala muito reduzida, não há neste momento qualquer tecnologia que permita a captura e o armazenamento de carbono da atmosfera terrestre em uma proporção que faça qualquer diferença na luta contra a mudança climática.
A Bloomberg lembrou o exemplo dos Estados Unidos, que destinaram bilhões de dólares em incentivos e crédito nas últimas décadas para impulsionar empreendimentos da CCS em centrais elétricas e instalações industriais. Mesmo com todo o dinheiro despejado, apenas 14 projetos estão em funcionamento atualmente, metade deles ligados às aplicações mais baratas – processamento de gás e produção de etanol.
Mas nada disso impede que muitos países petroleiros e empresas de combustíveis fósseis pressionem na COP28 pela adoção da CCS como um caminho para limitar o aquecimento global. Vide o tamanho da delegação de lobistas do setor presente em Dubai: de acordo com o Guardian, são pelo menos 475 representantes desse setor credenciados para participar da Conferência.
O entusiasmo da indústria petroleira e de alguns países com CCS pode afetar a ambição dos compromissos em discussão em Dubai sobre a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis. Os defensores da CCS propõem que apenas as emissões de combustíveis fósseis que não possam ser “compensadas” por absorções artificiais fiquem na mira do phase-down ou phase-out da energia fóssil.
Por mais que o “canto da sereia” seja forte em Dubai, os países não podem cair na tentação da CCS. “Embora possa ser útil marginalmente, a CCS não logra reduções nas emissões de gases de efeito estufa na escala necessária para evitar o desastre climático. Isto só poderá acontecer se as principais fontes de emissões – os combustíveis fósseis – forem eliminadas gradualmente”, alertaram Laurence Tubiana (ex-diplomata e uma das arquitetas do Acordo de Paris) e Emmanuel Guérin, ambos da European Climate Foundation, no Climate Home.
Guardian e Independent também abordaram a insistência da indústria fóssil e de países produtores de petróleo com CCS na COP28.
ClimaInfo, 12 de dezembro de 2023.
Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.