Mesmo com cifras para descarbonização maiores que as do plano anterior, Petrobras pretende investir quase dez vezes mais em combustíveis fósseis que no baixo carbono.
A Petrobras anunciou seu plano de negócios (PN) 2024-2028, listando as previsões de investimento da petroleira nos próximos cinco anos. Dos US$ 102 bilhões previstos para o período – cifra 31% maior que a do PN 23-27 –, a companhia pretende destinar US$ 11,5 bilhões para “projetos de baixo carbono”. Embora seja o dobro do valor do planejamento anterior, corresponde a apenas 11% do investimento total previsto para o quinquênio.
Da cifra prevista para baixo carbono, a Petrobras promete destinar US$ 5,5 bilhões para energias de baixo carbono, sendo US$ 5,2 bilhões para energia eólica (onshore e offshore) e solar fotovoltaica. No entanto, a companhia não detalha quanto vai aplicar em cada segmento. Sabe-se, porém, que as eólicas offshore são sua “menina dos olhos”, apesar do investimento nessa modalidade ter gerado discórdia em seu Conselho de Administração.
Os demais US$ 300 milhões das energias de baixo carbono irão para projetos de hidrogênio e captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS). Este último é uma tecnologia cara e ainda não viável e comprovada, mas que se transformou na grande aposta das petroleiras para continuar queimando combustíveis fósseis por todo o planeta, a despeito da crise climática.
Ainda no segmento de baixo carbono, a Petrobras prevê aplicar US$ 3,9 bilhões na descarbonização de suas operações; US$ 1,5 bilhão no que chama de “biorrefino” – que inclui o diesel “renovável”, um coprocessamento do combustível fóssil com óleo vegetal, e o bioQAV para o setor aéreo; e US$ 700 milhões em pesquisa, desenvolvimento e inovação em baixo carbono.
Mesmo com valores maiores para descarbonização, o PN 24-28 da Petrobras deixa a desejar quando se trata de uma efetiva transição energética. Afinal, se o plano prevê US$ 5,2 bilhões para as fontes eólica e solar, também prevê aplicar US$ 7,5 bilhões em exploração de novos reservatórios de combustíveis fósseis, sendo US$ 3,1 bilhões para exploração na Margem Equatorial; US$ 3,1 bilhões para exploração nas Bacias do Sudeste; e US$ 1,3 bilhão para outros países.
O novo plano de negócios da Petrobras e alguns de seus destaques foram amplamente noticiados, com matérias de Valor, Capital Reset, EnergiaHoje, Brasil 247, Valor, epbr, Folha, Broadcast, Exame, Valor, CNN, Agência Brasil, Correio Braziliense, InfoMoney, UOL, Poder 360 e g1.
Em tempo: Enquanto há imensa expectativa para que a COP28 apresente um plano efetivo para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, o Brasil vive uma contradição. De um lado, há uma pressão de setores do governo pela exploração de petróleo na foz do Amazonas. De outro, a produção nas bacias de Campos e Santos, entre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, trouxe ganhos econômicos, mas também consequências sociais e ambientais às cidades limítrofes dos campos de produção, mostra a Folha. Macaé (RJ), que já foi apontada como “a capital brasileira do petróleo”, recebeu R$ 813 milhões em royalties entre janeiro e agosto deste ano. Em todo o ano de 2022, foram quase R$ 1,5 bilhão. O desenvolvimento econômico prometido pelo petróleo, porém, não se reverteu em melhorias para amplos segmentos da sociedade.
ClimaInfo, 27 de novembro de 2023.
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